Zumbi dos Palmares e o racismo à brasileira

Zumbi dos Palmares e o racismo à brasileira

Data de Publicação: 16 de novembro de 2024 11:18:00 No texto de Abílio Wolney Aires Neto reflete sobre o Dia da Consciência Negra, celebrado em 20 de novembro, em homenagem a Zumbi dos Palmares. Ele destaca a luta contra a escravidão e as desigualdades raciais que persistem no Brasil, citando o poema "Navio Negreiro" de Castro Alves como uma poderosa crítica à desumanização dos africanos escravizados. A mensagem central é um chamado à ação para construir um futuro mais justo e igualitário.

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 No texto de Abílio Wolney Aires Neto reflete sobre o Dia da Consciência Negra, celebrado em 20 de novembro, em homenagem a Zumbi dos Palmares. Ele destaca a luta contra a escravidão e as desigualdades raciais que persistem no Brasil, citando o poema "Navio Negreiro" de Castro Alves como uma poderosa crítica à desumanização dos africanos escravizados. A mensagem central é um chamado à ação para construir um futuro mais justo e igualitário.

 

Por Abílio Wolney Aires Neto*

Em uma recente viagem a Salvador, fotografei o monumento a Zumbi dos Palmares e me lembrei que, em 20 de novembro, o Brasil celebrará o heroísmo de Zumbi, símbolo da resistência negra e da luta contra a escravidão. A data, marcada como o Dia da Consciência Negra, nos convida a refletir sobre as feridas deixadas pelo passado escravocrata e as profundas desigualdades raciais que ainda persistem.

O verso de Castro Alves – “Orquestra é o mar que ruge pela proa e o vento que nas cordas assobia” – captura a trágica sonoridade das travessias nos navios negreiros. Publicado em 1869, Navio Negreiro é uma das mais potentes denúncias literárias contra a escravidão. O poema expõe a desumanização de africanos escravizados com imagens que contrastam a beleza da natureza com o horror humano.

“Tinir de ferros… estalar de açoite…

Legiões de homens negros como a noite,

Horrendos a dançar…”

 

Desenho de Moacir Martins

Embora a escravidão tenha sido oficialmente abolida em 1888, seus efeitos permanecem vivos. A exclusão social dos descendentes de escravizados é evidente em favelas e comunidades marginalizadas, onde faltam saúde, educação e saneamento básico. A pirâmide social ainda reflete a herança colonial: no topo, descendentes das elites escravocratas; na base, afrodescendentes e indígenas.

Hoje, trabalhadores submetidos a condições análogas à escravidão são encontrados em setores como agricultura e construção civil. Essas práticas mostram como o racismo estrutural continua operando, reforçando a exclusão e a violência que atingem desproporcionalmente a população negra.

O escritor goiano Martiniano José da Silva, da Academia Goiana de Letras, traz reflexões essenciais sobre o tema em obras como Racismo à Brasileira e Quilombos do Brasil Central. Em Racismo à Brasileira, ele afirma:

“O racismo no Brasil não se manifesta em linhas abertas, mas em gestos, palavras e estruturas que separam o negro de direitos fundamentais. Ele não é um grito, mas um sussurro constante, que impede a plena cidadania.”

Martiniano desconstrói a ideia de democracia racial, revelando como o preconceito no Brasil se disfarça de cordialidade para perpetuar desigualdades. Já em Quilombos do Brasil Central, ele destaca o papel histórico e contemporâneo dos quilombos como espaços de resistência e inclusão.

“Os quilombos do Brasil Central não são apenas territórios de resistência histórica, mas também símbolos de um projeto de sociedade mais inclusivo. Eles carregam a memória da opressão, mas também da luta por igualdade e justiça.”

Essas reflexões dialogam com Navio Negreiro, em que Castro Alves denuncia a mercantilização de vidas humanas e o impacto devastador da escravidão. Enquanto o poeta dá voz ao horror do passado, Martiniano alerta para as formas sutis e persistentes de exclusão no presente.

A transformação social exige ações concretas: políticas públicas inclusivas, combate ao trabalho análogo à escravidão e maior representação de negros em posições de poder. Martiniano enfatiza que:

“Reconhecer o racismo à brasileira é o primeiro passo para superá-lo. É preciso mais do que celebrar datas como o Dia da Consciência Negra; é necessário romper com a estrutura que mantém as desigualdades e reconquistar os espaços que nos foram negados.”

Superar o racismo não é apenas reparar os erros do passado, mas construir um futuro mais justo e igualitário. A memória de líderes como Zumbi dos Palmares, os versos de Castro Alves e as reflexões de Martiniano José da Silva nos convocam a agir. Como ressalta o escritor goiano:

“Não há liberdade plena enquanto o Brasil não reconhecer que o racismo é sua ferida aberta, e apenas com coragem ela poderá ser curada.”

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
*É natural de Dianópolis (TO),
Juiz de Direito em Goiânia,
autor de 15 livros e membro  
da Academia Goiana de Letras.

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  1 Comentário

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Uma completa abrangência , sobre a situação atual que aos poucos está em mudanças . Excelente texto .

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