"O preconceito aos idosos adoece, mata e deveria ser crime"

"O preconceito aos idosos adoece, mata e deveria ser crime"

Data de Publicação: 23 de junho de 2024 18:48:00 O preconceito contra os idosos é uma realidade dolorosa e crescente. O etarismo, ou discriminação por idade, afeta profundamente a saúde física e mental dos mais velhos, prejudicando sua qualidade de vida e levando ao isolamento e à depressão

Compartilhe este conteúdo:

 O preconceito contra os idosos é uma realidade dolorosa e crescente. O etarismo, ou discriminação por idade, afeta profundamente a saúde física e mental dos mais velhos, prejudicando sua qualidade de vida e levando ao isolamento e à depressão

 

Por Antônio Oliveira

Assisti, nestes últimos dias, ao documentário Harry e Meghan. No filme, o casal conta o quanto sofreu com os preconceitos de classe e de raça, acentuados por uma imprensa sensacionalista e maldosa que predomina entre os outros veículos de comunicação do Reino Unido, os tabloides. Geralmente, os preconceitos de todos os tipos causam desgraça na vida de suas vítimas e, para não terem suas vidas e as dos filhos destruídas - e por amor -, o casal abriu mão da realeza e foi embora do Reino Unido. O então príncipe Harry era o 3º na linha de sucessão na família real britânica. Meghan, uma simples atriz de origem negra.

Há vários tipos de preconceitos no mundo, e um deles é o preconceito contra os idosos ou a terceira idade, que passou a ser chamado de etarismo – ou também idadismo ou ageísmo. Esse tipo de preconceito, sempre acompanhado do deboche, faz mal aos idosos que se deixam levar por essa insensibilidade social e pela ignorância.

Estou, neste artigo, me colocando entre os alvos desse tipo de comportamento social no mundo -e aqui não vai nem um marketing pessoal, apenas um ilustração fatual. Hoje, estou com 65 anos e, desde os 50 anos, tenho sido atacado tanto pelo preconceito quanto pelo deboche e pela ignorância. Isso tem ocorrido comigo porque, dos 50 anos até a idade atual, nunca senti os sintomas da chamada “velhice” ou terceira idade. Vivo, naturalmente, como vive uma pessoa entre seus 30 e 40 anos de vida, em termos de saúde física, psicológica e espiritual. E não é um forçar de barra, vaidade ou coisa que o valha. Sou consequência do tempo moderno, onde a terceira idade começa a se manifestar a partir dos 70 anos, e de uma vida de equilíbrio, desde a meninice. Há exceções, claro. Aos 59 anos, namorei uma mulher de 35 que resistia ir para a cama comigo. Quando foi, após a relação, ela me perguntou se eu usava Viagra e confessou que evitava um encontro mais íntimo comigo, temendo que eu tivesse um infarto na “hora H”. Ou seja, a sociedade, em sua maior parte, está equivocada em relação ao que ela chama de “velho” ou “velha” neste tempo que chamamos de Moderno.

Essa sociedade exige que nos comportemos como “velhos” e, muitas vezes, uns e outros nos insultam com frases como “quer ser novo”, “você está velho demais para isso”, “você está ficando gagá”, e por aí vai. E até nos cobram que nos entupamos de medicamentos. Da minha parte, isso nunca me atingiu e/ou me fez mudar de estilo de vida. Fico apenas abismado com esse tipo de insensibilidade e continuo vivendo sinceramente, sem esconder minha idade, sem as vaidades, muitas vezes ridículas, que mascaram a idade. E nunca escondi que sou avô, por exemplo - outro preconceito, principalmente de certos tipos de mulher.

Felizmente, não sou um caso pontual. Observo nos meios empresariais, políticos, jornalísticos, literários, artísticos, etc., muitos sessentões, setentões e até oitentões em pleno vigor, trabalhando, projetando o futuro e até constituindo nova família. Observo também os que têm relacionamentos com diferenças de idade. Sofrem ataques antiéticos e humilhantes. Tenho visto, por exemplo, o quanto devem sofrer, por esse tipo de ataque, os casais Michel Temer e sua esposa Marcela; o atual presidente da República, Jair Bolsonaro, e sua esposa, Michela. Os ataques aos idosos que namoram ou são casados com mulheres mais novas, e vice-versa, são mais ofensivos e agressivos. Ferem.

O preconceito contra os idosos é mais grave do que imaginamos. Conforme um relatório da Organização Mundial de Saúde (OMS), uma em cada duas pessoas no mundo já sofreu com ações discriminatórias que pioram a saúde física e mental dos idosos. Aliás, esse relatório tem como objetivo combater estereótipos e promover o debate sobre o assunto. Oitenta mil pessoas de 57 países foram consultadas.

No Brasil, conforme o documento da OMS, esse tipo de preconceito atinge as pessoas antes delas chegarem à terceira idade. Quase 17% dos brasileiros com mais de 50 anos já se sentiram vítimas de algum tipo de discriminação por estarem avançados em idade.

Para a presidente da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG), Vânia Herédia, em entrevista ao site UOL/Viva Bem, o etarismo se manifesta de várias formas. “Essas atitudes e ações dificultam a aceitação e acentuam a negação da velhice. A discriminação por idade é mais forte em sistemas onde a sociedade aceita a desigualdade social”.

O autor Antônio Oliveira, com uma de suas netas (Foto: Acervo pessoal)

Nesta mesma matéria, sua autora, Samantha Serquetani, coloca que “a discriminação por idade pode ser velada e também explícita. O idoso costuma ouvir comentários desagradáveis, como se fossem ‘brincadeiras’ sobre o envelhecimento, ou sente que não foi chamado para uma entrevista de emprego por causa da idade”.

Nesta mesma matéria, a psicóloga Juliana Yokomizo, do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, afirma que “o etarismo contribui para a baixa autoestima, sentimentos de desamparo, menos valia e leva ao isolamento. O idoso pode ter mais depressão também ao ser discriminado. É uma forma de negar a velhice, e os idosos são vistos como perda de vigor físico e da beleza da juventude”.

Especialistas dizem ainda que, não obstante aos problemas mentais, o preconceito contra a terceira idade está associado à morte precoce, já que esses ataques pioram as condições de saúde do idoso. “O idoso discriminado e excluído da sociedade aumenta os comportamentos de risco que favorecem o surgimento de doenças, ou seja, deixa de se alimentar adequadamente, bebe ou fuma em excesso, o que reduz sua qualidade de vida”, escreve Samantha Serquetani.

Os malefícios causados pelo preconceito vão mais longe, conforme os especialistas. Os idosos que sofrem preconceito são mais suscetíveis às doenças crônicas, a exemplo das cardiovasculares e artrites, além de acelerar o processo de envelhecimento.

E os males causados aos idosos por meio do preconceito não se reduzem aos já supracitados. Ele eleva o número de mortes precoces, por se infiltrar em hospitais e em centros médicos. Muitas vezes ocorre o racionamento na assistência à saúde do idoso.

O respeito é bem-vindo e faz bem em qualquer classe social.

*Artigo transcrito do site vidaeharmonia.com.br , publicação de 22/12/2022, do  do blog do portal Centro-Oeste Farm News, publicação de 27 de abril de 2023. O texto foi editado para algumas correções de digitação.

O autor está migrando todos os seus artigos, crônicas e contos  do outro seu site para este desta livraria virtual.

#Preconceito #Idadismo #TerceiraIdade #Etarismo #SaúdeMental #Discriminação #RespeitoAosIdosos #OMS #Geriatria #Envelhecimento

 

Compartilhe este conteúdo:

  Seja o primeiro a comentar!

Os comentários são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião deste site. Envie seu comentário preenchendo os campos abaixo

Nome
E-mail
Localização
Comentário

 Receba Novidades