Caminhos de perdão

Caminhos de perdão

Data de Publicação: 9 de novembro de 2024 18:43:00 Neste conto emocionante, Pedro, um pai dedicado, atende ao pedido de seu filho e embarca em uma jornada inesperada rumo a Faustinópolis. Ao enfrentar desafios na estrada, ele descobre a força do amor familiar, a importância do perdão e a resiliência diante da adversidade. Através da história de Marina, sua nora, e do legado de seu falecido pai, a narrativa explora as complexidades das relações familiares e a capacidade de encontrar esperança mesmo nos momentos mais sombrios.

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 Neste conto emocionante, Pedro, um pai dedicado, atende ao pedido de seu filho e embarca em uma jornada inesperada rumo a Faustinópolis. Ao enfrentar desafios na estrada, ele descobre a força do amor familiar, a importância do perdão e a resiliência diante da adversidade. Através da história de Marina, sua nora, e do legado de seu falecido pai, a narrativa explora as complexidades das relações familiares e a capacidade de encontrar esperança mesmo nos momentos mais sombrios.

 

Antônio Oliveira

O telefone toca no início de mais um dia corrido para Pedro. Era seu filho caçula, Luís.

— Pai, o senhor pode ir a Faustinópolis para mim?

— Fazer o quê?

— Socorrer minha mulher. É só chegar lá e voltar.

Para Pedro, o pedido de um filho é uma ordem que ele sempre executa com prazer. Ele apenas respondeu “vou”, sem saber onde ficava a cidade. Luís desligou o telefone e, dez minutos depois, Pedro já tinha colocado na mochila o necessário para passar um dia, no máximo dois fora de casa. O filho  já o aguardava na porta.

— Pai, me leva apenas ao meu trabalho — disse Luís, fazendo uma explicação rápida que Pedro não entendeu “nadica de nada”, mas, para ele, pedido de filho é ordem. Nenhum de seus filhos o colocaria numa “roubada”.

— Mas onde fica essa Faustinópolis? Não faço a mínima ideia — disse Pedro.

— Nem eu, pai. Pesquisa. Me parece que é no sul do Maranhão — respondeu o filho.

Luís tinha todo o jeito do pai: pressa em tudo o que faz, inclusive subir escadas de dois em dois degraus, e muito focado no trabalho. Mas havia uma diferença: ao contrário do pai, a fala do filho era rápida e difícil de entender. Ele entregou ao pai a chave do carro e um cartão de crédito, alertando que os documentos do automóvel eram digitais.

Pedro ligou para alguns conhecidos, pesquisou e descobriu onde ficava Faustinópolis e os caminhos a seguir. No trajeto, ele pensava: “O que estou fazendo e vou fazer?”. Mas para ele, o pedido de um filho é uma ordem, e seu temor de dar ou levar uma bronca dos filhos era grande. Com fé em Deus, pé no acelerador e o máximo de cuidado nas estradas, Pedro cruzou o Tocantins rumo ao sul do Maranhão. O plano era chegar por volta das 18 horas, voltar no mesmo dia ou na manhã seguinte.

Mas a viagem atrasou. Por volta das 19 horas, Pedro decidiu parar para passar a noite em uma cidadezinha no caminho. Ele temia dirigir um carro de luxo em estradas do interior do Brasil, com o risco de emboscadas ou latrocínios.

— Meu filho, avisa para a Marina que vou dormir por aqui. Sigo viagem logo às 5 da manhã, chego lá por volta das 8 e voltamos — disse Pedro, em ligação telefônica a Luís.

Dez minutos depois, foi Marina quem ligou para Pedro.

— Meu sogro, eu não posso voltar com você. Volte para casa daí mesmo. Meu pai morreu — disse ela, explicando, a seguir, a sua viagem àquela cidade.

Imagem: BR Freepik

O pai de Marina seria submetido a uma cirurgia delicada, e ela foi chamada à cidade por ele. Luís tinha um compromisso de trabalho em São Paulo e não pôde acompanhar a esposa. Sem companhia, Marina ligou para a avó, uma senhora de mais de 80 anos, lúcida e simpática, perguntando se ela poderia acompanhá-la. A resposta foi positiva. Como seu carro estava com defeito e o casal considerava usar um carro adequado para as estradas irregulares, não o outro, de luxo, projetado para cidade, Marina pediu emprestado o carro de uma amiga.

E lá foram elas, a neta e a avó, rumo ao sul do Maranhão, dirigindo um SUV importado, híbrido, um carro que também não era ideal para a região.

No caminho, já anoitecendo, um dos pneus dianteiros furou. Marina encostou, abriu o porta-malas e o capô do carro à procura do estepe, mas não o viu.

Oh, coragem, oh determinação, oh risco. Ela decidiu pedir socorro. Numa região e estrada como aquelas, quem para à um pedido de socorro geralmente tem más intenções: roubo, estupro, latrocínio.

E a avó, dentro do carro, parecia tranquila.

— Vó! Estamos à noite a beira de estrada, com pneu furado e a senhora aí tranquila!

— E daí, minha filha? É só esperar socorro — respondeu a avó, demonstrando uma grande sabedoria. Ela, na verdade, não queria deixar a neta ainda mais nervosa, em pânico.

Finalmente, um caminhoneiro parou para ajudar. Ele também procurou o estepe e encontrou apenas um dispositivo que injetava uma química no pneu, deixando-o em condições de buscar o primeiro socorro de um borracheiro. Mas o pneu estava rasgado.

Então, ele as aconselhou a seguir com o pneu daquela forma até um posto de gasolina a uns dez quilômetros à frente, onde poderiam guardar o carro e encontrar uma forma de seguir viagem ou voltar para a cidade mais próxima em busca de um lugar para dormir. No dia seguinte, poderiam chamar o seguro para rebocar o carro, já que na região não havia pneus para aquele tipo de veículo. Assim, as duas fizeram, tomando um transporte interurbano para voltar à cidade mais próxima e, no dia seguinte, prosseguir a viagem.

O plano de Marina era acompanhar a cirurgia do pai, visitá-lo após e voltar para casa. Contudo, o pai faleceu algumas horas após a intervenção médica.

— Minha nora, eu vou sim e ficarei com você até tudo estar resolvido — disse Pedro.

Por volta das 8 horas da manhã, Pedro chegou à cidade e dirigiu-se direto ao hospital, onde já estavam sua nora, uma tia e uma prima dela, além da viúva, providenciando a retirada do corpo para os serviços fúnebres.

Nesse ínterim, a viúva, entre uma picuinha e outra, em pressão sobre Marina, como se esta estivesse lá com interesses outros, que não o de assistir o pai em vida ou morte, revelou um pedido do falecido: ele queria ser sepultado em uma agrovila a mais de 250 quilômetros de Faustinópolis. O corpo foi devidamente preparado, e seguimos o carro funerário, uma camioneta,  rumo à agrovila, a 200 quilômetros de asfalto e mais 50 de estrada de chão. Contudo, a 20 quilômetros da cidade de onde saíram, o motorista da funerária, que tinha a viúva ao seu lado, tomou inesperadamente outra estrada de chão. Pedro, acompanhado de sua nora, tia e prima, o seguiu. Mas, ao ver as condições da estrada, buzinou para o motorista.

— Meu amigo, uma das minhas acompanhantes é da região e a conhece bem. Ela me disse que a estrada não é esta, que é intransitável para carros baixos. O caminho correto é ir até Pedrópolis e de lá pegar uma estrada de chão que é transitável. Não vê que meu carro não é para esse tipo de estrada?

— A viúva aqui também é da região e me disse que a outra estrada está sem condições de tráfego — respondeu o motorista, seguindo viagem.

Foi uma viagem de 50 quilômetros que durou duas horas e meia, com a nora de Pedro e suas parentes descendo a cada ponte – ou arremedo de ponte, a cada 10, 20 kms – para guiar Pedro. Pontes quebradas, buracos e pedras no caminho. Foi um verdadeiro rali com um carro de asfalto.

Finalmente, chegaram à agrovila, que era muito simpática e estruturada, construída e mantida por trabalhadores de vários assentamentos de reforma agrária. O velório seria realizado no galpão de uma igreja evangélica, onde Pedro logo percebeu o grau de espírito cristão daquela comunidade: uma igreja para o encontro da alma com Deus, um galpão e uma cozinha para o pão material dos necessitados.

— Marina, olha aí o que você não entendia sobre o porquê de seu pai ter pedido para ser sepultado aqui, onde morava com sua companheira — disse Pedro à sua nora.

No salão, uma multidão de pessoas humildes, pequenos agricultores e pastores evangélicos aguardava o corpo. Conversando com um e outro, Pedro percebeu que ali, o pai de sua nora, após uma vida distante da moral cristã e dos deveres de pai e esposo, causando traumas na família, reencontrou Deus e a si mesmo.

Com o corpo em velório, o coração de Marina se despedaçava ainda mais. Ali, ela era a única da família do seu pai que perdoou a vida equivocada dele. Desde que soube da doença grave dele, cercou-o de toda atenção e amor filial. Pedro sofria ao ver sua nora naquela dor.

No grupo de seus filhos, em uma rede social de mensagens rápidas, Pedro mantinha Luís e os demais informados sobre a situação e como estava Marina.

— Marina está sofrendo muito, mas revelando uma coragem, firmeza e determinação enormes nesses dois dias — respondeu Pedro a uma das filhas.

— Pai, você não acha que a Marina é muito carente? — perguntou outra filha.

— Não é que ela seja carente. Ela carrega no corpo e na alma as cicatrizes de seus sofrimentos ao longo de seu ainda curto tempo de vida neste plano material — respondeu Pedro, usando uma linguagem bem de sua formação cristã.

— Ow, pai! A anta da história sou eu — disse Luís, claramente se tocando que quem deveria estar ao lado da mulher amada naquele momento seria ele.

— Sou “fominha por trabalho” — completou, muito sentido.

O corpo velado por tantos amigos daquela vila, de outras vizinhas e até de outras cidades, chegou o momento em que a nora de Pedro mais sofreu. Não é fácil ver um ente querido sem vida e recebendo terra sobre o corpo frio. Mas é um adeus à matéria e um até um dia para o espírito.

No dia seguinte, após a volta à Faustinópolis por uma estrada de chão, mas transitável, e uma noite de descanso antes de seguir viagem de volta à cidade de origem, Pedro observava com ternura, ao seu lado, revezando a direção do carro com ele, uma mulher com o coração despedaçado, porém firme, determinada e com o nobre sentimento do perdão.

*Embora baseado em fatos reais, todos os nomes de personagens, cidades e locais desse conto são fictícios.

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